quarta-feira, 1 de julho de 2009

Filhos da Cultura - Cáp.6

A ansiedade
- perifl

Ela é magra. Bem mais magra do que você imagina. Tem os ossos a mostra, tensos, rijos, quase perfurando a fina pele. Além disso, a altura desproporcional causa um certo mal-estar associada a essa estrutura tão frágil. Em seu comprimento, a coloração entre o roxo escuro e o azul petróleo transmitem um ar de doença por onde passa. Os dedos são finos e longos, com as veias saltando da pele e as articulações machucadas por tantos movimentos repetitivos.

Ela passa a maior parte do tempo escondida, não suporta a presença alheia, a convivência; prefere a fuga e um lugar para se deteriorar sozinha. Qualquer buraco é melhor que a claridade. Mas quando aparece é desesperada, intensa e quase insana. Não há um segundo de descanso. Os membros se movem incessantemente até surgir dor em cada ponto espalhado no corpo.

O coração é uma bomba pulsando dolosamente, a mente parece desejar transpor o limiar que lhe é restrito, o imaginável, para ganhar pernas e sair correndo em busca da paz que não encontra na própria morada. A respiração não existe: o que há é um fluxo de gás carbônico ofegante que entra e sai dos pulmões de maneira aleatória e na maior parte das vezes não leva ar suficiente para satisfazer o corpo.

A cabeça calva com veias azuis saltitando nas têmporas denuncia a enxaqueca permanente. Os dentes são muito afiados e machucam a própria pele o tempo inteiro. Na corrida contra ela mesma, só encontra a perda no final.
Nenhum momento é agradável.
Nenhum suspiro traz o alívio.

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