sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Mjötviður (A árvore do destino)




Hoje estive no céu
E ele era o próprio fogo
Uma imensidão laranja descoberta

As raízes alçaram-me da terra
Do subsolo trouxe minhas asas partidas
E as vi dissipando-se no ar rumo ao verdadeiro eu

Minha alma transubstanciou-se em névoa quente
Despi-me do estado-indivíduo e deixei de ser
Libertei-me das décadas e virei a essência

Imersa nas conexões universais
De vozes e dores ancestrais
De canto e contemplação 

*Ouvindo o álbum Mjötviður Mær, Þeyr (imagem)

"Þeyr foi uma banda islandesa de new wave do início dos anos 80. Envolta em um véu de mistério, sua existência de três anos foi caracterizada por um profundo interesse na sabedoria ancestral", Wikipedia.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

W-h-o A-r-e Y-o-u?



Você abre a boca. Sono?
Quando era um bebê você abria a boca pra chorar, pra chamar.
Alguém ainda escuta o seu choro?
Você me lembra o lobo mau com os dentes brilhando à luz da TV.
Ele vivia nos livros. Nós tínhamos medo dele.
Agora ele tem medo de nós
Que tipo de pessoas nos tornamos?

Fecha os olhos. Uma fuga para o sonho?
Se eu não te conhecesse poderia dizer quem você é
Mas como sei quem você é, nunca poderei te conhecer de verdade
Porque uma pessoa é feita do que prova aos outros,
E você não quer nos decepcionar, quer?
Eu juro que acredito se você continuar mentindo
Mas minta direito.

A centopéia fuma na TV. Me dá um cigarro?
Eu adorava a Alice, agora a odeio
Mas do gato sempre gostei
E quando você abre a boca vira um sorriso gigante.
“Sorria e o mundo irá sorrir com você”
Old boy, que mentira, o mundo se fecha a nossa volta
E os nossos dentes desaparecem.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Um fragmento

Heavy Roses, Edward Steichen

As rosas morrem para satisfazer o nosso olhar,
Uma delas me disse enquanto a fitava no vaso.

Dizia-me isso e desintegrava-se no vento, no tempo,
Nada mais do que um fragmento da imutável eternidade.

Espero que a rosa encontre seu caminho para o eterno
E não seja mais obrigada a suportar calada o deleite do nosso egoísmo.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O transtorno da máquina inseto


- Tríade city 3 -

“Dear City,

Enquanto o Burroughs está lá fora, procurando o pico das dez, resolvi lhe escrever. Ou melhor, me escrever. Sei que a relação entre nós três não anda nada bem.

Ah minha cara, a vida não tem sido boa dentro de você. E nem dentro de mim. É tec tec o dia todo e aquele cara alucinando nas minhas patas; os pensamentos, que nem são meus, correm pelas folhas e caem no chão numa mistura nojenta de sangue e lixo.

Quando menos se espera ele volta dos seus braços. E nem quero imaginar o que você tem feito com o cara durante todos esses anos, parece-me cada dia mais acabado. Sai atrás de algo que nunca encontra, procura luz na noite e esconde-se no limbo do esquecimento de dia. Mas sempre retorna a você, atira-se nas suas ruas imundas, voando em torno do néon feito vaga-lume e caindo de cara no concreto quando encontra a realidade.

Depois retorna ao tec tec tec, e aquelas pessoas estranhas passam por suas veias, dedos, pelas minhas patas, ganham vida numa dimensão distinta. Seres sem nome, sem lembrança. Posso imaginar o que eles fizeram nas suas entranhas para receber tamanho troco. No final o seu esgoto é a nossa única saída, desculpe-nos o transtorno.

Att.”