terça-feira, 24 de maio de 2011

A saga de Jesus pelo mundo pop

ELE é a prova cabal de que é possível ter muito mais do que 15 minutos de fama!


Moda divina
Que papa que nada – a entidade dita “pop” por um tal engenheiro com camisa de motivos florais já era há tempos, se é que um dia foi alguma coisa. Numa breve comparação: quem é o cara que mais aparece nas feiras artesanais cercado de santinhos de cerâmica, estampa mais paredes do que os quadros de Mao Tsé-Tung e Che Guevara juntos, atuou ao lado de Madonna em  Like a Prayer e tem até um famoso guaraná rosa-choque com o seu nome fabricado no nordeste brasileiro??? Jesus Christ!  

Aqui em São Paulo, atentando a essa visibilidade do filho de Deus na mídia, nasceu o duo de garage/blues/punk Jesus and the Groupies. Claro, sendo tão popular quanto outros ícones da música (à exceção dos Beatles, que são mais famosos), o rapaz também precisava de umas fãs enlouquecidas para internalizar o estereótipo de estrela do rock. A origem do nome do duo formado por Marco Butcher e Luis Tissot exemplifica perfeitamente a encarnação desse Jesus celebrity. Butcher se inspirou na resposta de uma frequentadora desses cultos exibidos na televisão – quando questionada sobre a primeira coisa que faria se tivesse a oportunidade de falar com o dito cujo, não tardou em enfatizar: pediria um autógrafo!

Single do duo Jesus & The Groupies
A emblemática mulher mal sabia que acabara de resumir a influência formada através de dois mil anos por meio de seu pedido cabuloso. Sim, um autógrafo. Pois qual a graça de conhecer Jesus se você não puder provar aos outros??? Nem toda a escola de Frankfurt definiria melhor as reações adversas da indústria cultural.

Voltando aos primórdios da música estranha produzida nos anos 80 encontramos, na minha opinião, a melhor expressão audiovisual que já foi criada em cima da famosa imagem do homem barbado de pés descalços: o vídeoclipe I´m kooler than Jesus, da banda americana de eletro-industrial My Life with the Thrill Kill Kult. Muito, mas muitooo mais intrigante que os filmes do Mel Gibson sobre o ícone pop que beiram – ou ultrapassam - o sadomasoquismo.

Em tradução livre, a música diz “sou mais legal que jesus”, mais “descolado” e, por que não, mais “da hora”. Ser mais cool que Jesus é absolutamente incrível - é como ser mais cool que John Lennon. Só pelo nome já valeria. Mas, indo além, essa composição nos brinda com o trecho "I was raised in Mississippi /I am the electric messiah/ the AC/DC god!" (Fui criado no Mississipi/ Sou o messias elétrico/ o Deus AC/DC) não deixando dúvida sobre a potência quase destrutiva desse clássico. 


Preso em UK
O personagem da música foi criado no Mississipi, terra do diabólico Robert Johnson, empunha sua guitarra elétrica messiânica e toca AC/DC – o que faria a mulher do autógrafo ter uma síncope ou ir à loucura. Nada que abale o ícone celestial, assim como Gaga não abalou o reinado de Madonna. Jesus rouba a cena no videoclipe que mistura imagens suas em pop art, pessoas estranhas dançando de forma mais estranha ainda e – o melhor de tudo, sem sombra de dúvida – santinhos rodopiando como globos de disco dos anos 70 num frenesi contagiante.

Por tudo isso e muito mais, ELE é a prova cabal de que é possível ter mais de 15 minutos de fama!