segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O ente magnânimo

George Grosz, The Lovesick Man, 1916

- Tríade city 2 -

Disseram-me certa vez que a cidade é não é um ente magnânimo como a natureza, muito pelo contrário – ela é o reflexo do pior que existe em nós. Saí às ruas para tentar descobrir. Parei no centro dela e pensei na maneira mais sutil de agir, sem chamar sua atenção. Não deu certo.

- “Olhe para cima, não tenha medo”, disse-me a cidade. Mas jamais acreditaria nela. Fiquei quieto, com medo. 

- “Olhe para cima inseto”, insistiu, “olhe para as torres, edifícios... Você nunca será maior do que eles”.

Nunca serei maior do que os edifícios, a cidade tem razão. Será que alguém poderia ser? Encontro um policial na rua e pergunto:

- “E você, pode ser maior do que os edifícios?”.
- “Não, não posso”, ele responde, e acrescenta, “mas posso ser maior do que você”.

Não vejo muita vantagem em ser maior do que um inseto quando não se pode ir além das celas da cidade. Pelo menos posso escapar pelo espaço entre as grades. Vejo um homem de gravata e insisto na questão.

- “E você, pode ser maior do que eu, maior até do que o policial?”.
- “Não, eu não posso”, diz. “Mas os edifícios podem. E eles são meus”.