quinta-feira, 25 de junho de 2009

Filhos da Cultura - Cáp. 4

Una puta llamada Esperanza

Argh. Universo, buda, estrelas, jesus, me respondam algo - não que isso vá fazer alguma diferença. Meus ossos doem tanto, nem aguento levantar da cama. A noite os sonhos parecem uma piada sem graça. Encontro pessoas distantes, sonho voar pelo céu sem limites, sinto o amor nunca encontrado nessa terra sã.

Sonho. Ele consegue ser tão cruel. Acordar é chegar muito próximo daquele limiar tão sutíl do insuportável. O abismo é tão próximo que consigo ver o meu rosto refletido na sua decadência. Essa vontade, cobiça, desejo, egocêntria, horror sobrenatural e desumano do suicídio. A vergonha da espécie que coloca o ponto final antes da hora certa. Mas quem disse que as horas são iguais para todos?

Nesse exato momento uma pessoa do outro lado do oceano descobre que é o ser mais feliz do mundo e agradece de joelhos a prece atendida por sabe-se lá quem. A pouco mais de um quilômetro daqui um homem de 20 e poucos anos é atropelado e vê a sua vida passando como um filme insuportável e injusto. E talvez nessa cidade existam mais pesssoas como eu. Provavelmente há alguém que odeie o trabalho necessário para sustentar os filhos e olhe para o mesmo viaduto todos os dias desejando estourar os miolos debaixo do próximo carro.

Ah, como os meus ossos doem. Centenas de agulhas ao mesmo tempo perfuram cada poro, atravessam os músculos, invadem os órgãos. Meu coração parece uma bomba prestes a explodir. O pavio queima rápido e dolorosamente, sinto que o fim está próximo, ao menos espero isso ansiosamente. A ansiedade me corta os pulsos, me dá falta de ar, mal consigo abastecer os meus pulmões com oxigênio. Um calafrio percorre o meu corpo em busca de alguma saída e me coloca contra a parede a cada instante, em um xeque-mate eterno. O peso da sobriedade já é mais forte do que eu posso suportar.

Meu estômago dói, não consigo mais dormir, aos poucos perco os movimentos mais simples e adquiro nuances verde musgo num olhar apático. O sangue corre quente nos braços, sinto ele seguir seu destino num fluxo incessante e delinquente, jogando vermelho tinto nos meus órgãos e mantendo a vida apesar de tudo.

Imagino o som do gatilho e seu tiro consequente; imagino a fraqueza dos músculos enquanto o veneno se dissolve no sangue; imagino o vento frio e veloz que corta o rosto no momento da queda; imagino a dor que abre a veia do pulso; imagino o estalo no momento em que o sistema nervoso se desliga da estrutura; imagino a dose quente que segue pelo braço até o coração. Nunca acreditei em possibilidades, mas agora vejo que existem muitas. Ainda há esperança.

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