quarta-feira, 24 de junho de 2009

Filhos da Cultura - Cáp. 3

Solidão

O copo reflete a luz vazia amarelada da sala repleta de pó. A fumaça cria um ar de nostalgia, anos perdidos, pessoas perdidas. O cigarro caído na ponta dos dedos é um mero coadjuvante nessa cena decadente. Lembro de vozes roucas do passado. Me sinto entre on the road, na beira da estrada, ou em um buraco qualquer na França dos anos 60. Quanta besteira. Sou só eu, numa época medíocre, cercada de silêncio e sem ideia alguma.

Os tempos não estão mais mudando Mr. Zimmerman, as coisas nunca pareceram tão iguais. Não que elas realmente tenham sido diferentes, mas pelo menos havia esperança de tal acontecimento. Agora somos todos perdedores, nos deixamos levar pelo tempo, pelo sistema corrompido de investimento e homens de terno que escrevem na parede caminhos imaginários tão insensatos.

Agora só há vazio. Um buraco negro na solidão da madrugada que indica o caminho para a revolução individual de todos os deslocados como eu. Aqui é América do Sul. Não há blues de Mississipi e nem ao menos a inocência inerente aos índios e incas assassinado aos milhões pelos malditos espanhóis. Somos uns bastardos sem chance, corremos atrás de governos paternalistas e deixamos de ter ideias.

O fogo está apenas na dança noturna de imbecis desocupados, que dançam como robôs futuristas em roupas coloridas nas esquinas. Nas pílulas de arco-iris que inspiram a vida novamente. Em caixas tarja-preta para alimentar o sono e os sonhos.

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