Número 1 - O tempo
Eu queria ser o tempo da música. Nascer e morrer dentro dela. Viver nas linhas da partitura com as minhas lágrimas pontuando as pausas e colcheias. A minha vida seria breve, mas valeria por cada instante. Imagine a falta que eu não faria se resolvesse parar antes da hora? A melodia não conseguiria prosseguir. E eu, será que conseguiria prosseguir sem ela?
Eu queria ser o tempo da música exatamente porque de melodia já tenho muito. Ela é dramática, forte, bipolar. Às vezes triste o tempo inteiro, e daí me deixa triste também, porque sendo o tempo, tenho que carregá-la nas costas, ela me segue e me suga como um viciado precisando se entorpecer.
E o tempo é muito mais prático. Ele não tenta se alongar mais do que deve. Sabe que vai acabar, por isso corre na hora certa, pausa e depois volta porque precisa voltar, porque é a direção que guia o todo. A melodia que chore, se revolte, seja dissonante e caótica, o tempo precisa continuar.
Mas a brevidade do tempo da música é só uma ilusão. E daí vou dar o braço a torcer à subjetividade da melodia, porque ela cria um mundo. Sim, e o seu mundo não tem tempo, por mais contraditório que pareça. Transpassando a fronteira da realidade, cria a própria eternidade. E nessa realidade o tempo é um detalhe.
Um comentário:
Nossa que bom poder passar nesse cantinho, usando o senhor tempo como medidor. Fiquei em pausa, mas as notas por serem cíclicas,eis que aqui estou.;).
Obrigado pela sensibilidade e por dividir conosco os pedacinhos dos seus eus. Bjusssss
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