quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A arte de fazer acontecer


*Montagem por Renato Gimenez

No dia nublado e sinistro que foi o último sábado, ao meio dia, teve início a oitava edição do Festival Sinfonia de Cães. Quem acompanhou minimamente os acontecimentos dos últimos meses sabe que o Centro Independente de Cultura Alternativa e Social (CICAS), onde aconteceu o evento, passou por poucas e boas. Pedro Pracchia descreve o estado de tensão no qual permaneceram todos durante as semanas de iminência da derrubada do espaço no texto Noite de Vigília

E no último sábado, apesar de o tempo não ter sido tão convidativo, o CICAS estava cheio. Impossível não ter uma sensação ótima ao circular por lá e ver tanto movimento. Crianças corriam enlouquecidas por todos os lados, pulavam sobre fileiras de pneus coloridos que enfeitam a entrada, jogavam bola, lutavam até se machucarem ou quase machucarem os outros (rs). Impossível também não esboçar um sorriso ao vê-las se divertindo tanto com coisas tão simples.

E acontecia muita coisa por lá. No caminho do “bar” alguns tomavam sopa, outros pegavam uma cerveja. Enquanto intervenções de artísticas prendiam a atenção de quem passava pela rua, a sonoridade oriental chamava para a dança do ventre no lado de dentro. Enquanto nas salas atrás do palco o silêncio abrigava fotografias, na frente dele a conversa frenética de estranhos e conhecidos emoldurava as imagens em exibição nas paredes.

Antes de o dia virar noite, a junção do blues-dog com ritmos regionais em frente ao CICAS só fez lembrar aos ouvintes com suas latas de cerveja que a música nunca teve e nunca terá fronteiras.

As seis e pouco, quando já havia anoitecido, as bandas entram no palco e levam os amigos e curiosos pra dentro do espaço, em busca de alguma sonoridade nova ou apenas de diversão embalada por acordes e ritmo compartilhado.

Bandas distintas, certamente, mas com um “q” visceral as unindo além de cada estilo. Do vocal rasgado do Iansã aos baixistas frenéticos do The Mothers e Te voy a quebrar, da introspecção esquisita do Drama Beat (na qual toco e realmente acho esquisita) à densidade criativa do Visão V, tudo pareceu fluir numa onda vertiginosa e oscilante que levava e trazia as pessoas de volta para dentro do som.

Enquanto isso, vídeos interessantes e curtas sinistros eram projetados na rua, entrecortados de vez em quando por algum distraído que passava em frente à tela - o qual era driblado pelo olhar atento de alguém que esperava até o desfecho de alguma cena para dar mais uma tragada no cigarro.

Após o fim do festival, muitos permaneceram para uma última conversa com as tantas figuras interessantes que circulavam por ali, outros foram para festas, outros para casa (creio que bem poucos). Mas no final a sensação era de que aquele dia sempre existirá naquele espaço, em alguma esfera invisível, unindo tantos tipos de arte em um momento valioso - que há de se repetir de outras formas e muitas vezes enquanto houver quem acredite que a arte sim, ela vale a pena.

Mais informações: www.sinfoniadecaes.org - www.projetocicas.blogspot.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei de ter participado desse festival. Boa lembrança. Sempre prefiro a diversidade à especificidade. Quase sempre...