De um lado da mesa eu, do outro ela
Aprecio seus movimentos flutuantes, leves como plumas de liberdade
Tão doce, tão viva, tão enlouquecidamente sem rumo
Como eu vou esquecer essa risada?
Como eu vou esquecer o tom da sua voz?
Como eu vou ignorar a amada sutileza?
Vive esquecendo tudo à sua volta, numa intensidade sem padrão.
Outra dose, outra cor dentro do copo, isso nem me importa mais
Você vaga sem o menor pudor na minha mente
Forma intensa e delicada, sangue e sabor
Não consigo olhar mais adiante
Não consigo mais olhar para lado algum
Não consigo respirar, pensar, fingir
Enjôo, desespero insensato.
Você pousa o copo levemente sobre o mármore
Sinto o ardor do sol que bate na sua pele
Na sua boca, vermelha labareda
Como eu vou apagar esse jeito de olhar da minha memória?
Como eu vou abandonar os dias que criei para passar com você?
Que lobotomia vai me curar dessa loucura?
Tire uma arma do seu coração, meu bem, e estoure o meu.
Agora tenho juízo, no momento seguinte me pego a flutuar
Tal qual um navegante oscilando em marés incertas
Sugado para dentro de um rodamoinho verde e cheio de dor
De que maneira eu posso desistir depois te tanto tentar?
Como posso não querer, se a lembrança invade meus sentidos?
Como posso alimentar meu corpo, se a minha alma agoniza?
Responda-me, obsessão.
2 comentários:
A obsessão da amor, paixão, enfim, é a mais arrasadora que existe. Não há comparação. Nem a religiosa - também sedativa - tem a força dos sentimentos.
Um ser humano, uma bebida e uma paixão, combinação perfeita para uma explosão mental e comportamental. Voltamos a nosso espírito selvagem, os primórdios de tudo. Pensamos que nunca chegaremos "lá", no final de nossa racionalidade. Mas chegamos.
Como diz meu editor, "tudo pode ser pior". Nesse caso, tudo pode tornar-se bem mais selvagem. Ah, paixão...tão perigosa, mas também tão atraente. É disso que vive os seres humanos. Basicamente.
http://billanddanielle.com/images/chagall_blaue_sm.jpg
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