terça-feira, 27 de abril de 2010

Ruídos



A nostalgia é um ruído magenta-triste, forte e com sombras espalhadas em alguns pontos da memória. Dias frios e chuvosos.

Eu assistia Lost in Translation na cama com uma preguiça eterna de sair dela. E ouvia My Bloody Valentine na sequência, porque a dor, ao contrário do que pensam, também é rosa.

E a solidão nos copos de whisky e cigarros de pubs perdidos no mundo é real. Mas talvez ela não tenha sido feita para ir embora. Nós somos a nossa própria solidão.

Nós somos as guitarras distorcidas e o fundo dramático da coisa toda. Nossas lágrimas são notas desconexas no meio do ruído.

“Eu não tenho amor, eu não tenho nada além do álbum da capa rosa”. Meu vazio se expande como o universo das noites sem estrelas. Meu vazio me absorve nos seus braços.

Mas o objetivo de tudo é saber o que ele diz no sussurro final antes de pegar o táxi. E isso importa?

São apenas palavras ao vento, como as distorções cor-de-rosa e as notas – que na verdade são lágrimas – molhando tudo antes de partirem para o infinito.

Imagem: Loveless, My Bloody Valentine

3 comentários:

Regis Vernissage disse...

tenho uma imagem muito forte desse disco (ok ok, lost in translation é lindíssimo, mas vamos nos ater ao loveless): já havia comprado num sebo em paris esse k7 original (que acabou parando nas mãos do meu grande irmão e sortudo de plantão richard vital, depois que descolei o cd original) que me acompanhou no inverno de 99, perto do natal, em uma trip de trem-bala paris-amsterdam... a viagem tem 4 horas, então conta aí quantas vezes eu virei de lado essa k7 enquanto olhava pela janelinha aquele mundo escuro e gélido sem vivalma nos campos nem tampouco nas cidadelas onde o trem parava... apenas luzes embaçadas e muita, muita neve que insistia em cair ininterruptamente... por várias vezes meus olhos encheram de lágrima enquanto meu corpo inteiro arrepiava em fluídos vertiginosos...

Por Cris Tavelin disse...

Nossa, que trip e que imagem fantásticas Regis! O final dos anos 90 já tinham uma aura nostalgica por si só... se você junta isso ao Loveless e à Europa gélida e solitária, o mínimo que se espera são algumas lágrimas :´)

Acho que o álbum e o filme casam perfeitamente, principalmente nas cenas abertas que mostram a cidade iluminada à noite. Quantas pessoas moram na solidão de seus apartamentos? Inúmeras...

Selo Sem Sê-lo disse...

Ah, o fardo do humano contemporâneo, a possibilidade de tudo, atrelada à irremediável solidão. Malditos existencialistas e suas profecias, estamos sós.
Lost in translation é um dos filmes mais rocks que já vi na vida.
Belo blog Cris, adorei.

Elmo