segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

À mercê

A cada silêncio uma facada
Espero calmamente a hemorragia
Até não haver mais o que se fazer
A não ser morrer mais uma vez

Fiquemos agora cada qual no seu canto
Em cada esquina com o próprio desengano
Com a garrafa que pudermos sorver
Com a esperança fugaz de um dia ter

E se doer, deixemos que doa
Os sentidos se perdem tão a toa
Quando a imaginação é impiedosa
E jaz numa incerteza dolorosa

Nem um lúgubre abrigo nos é deixado
Assim, à mercê dos céus, ficam os fracos
Quando Vênus já lhes deu as costas
E canta alegremente suas derrotas

3 comentários:

Fabio disse...

essa Vênus... nos faz lembrar da musa lá no alto, de cima, de costas para os mortais, fumando um cigarrete sobre toda toda vã esperança àvida pela nova música, pela novidade insaciável, todos estivemos à beira de Creta, sua morada principesca... simplesmente um luxo. E num dado momento, tão cortezmente ela se vira (oh!)revelando o melhor movimento de seu novo penteado, cabelos recém-cortados, e sem levantar os olhos de seu enternecimento, ataca sutilmente e cortante os primeiros acordes da guitarra, vai ao microfone e diz: "Tight toy night, streets were so bright..." o resto é só História.

Xxx disse...

tocou-me especialmente este trecho:
"A cada silêncio uma facada
Espero calmamente a hemorragia
Até não haver mais o que se fazer
A não ser morrer mais uma vez"

esta de parabéns, Srta.

P. A. Sanches disse...

Fui tocado pela terceira estrofe, mais especificamente no segundo verso; tão real.