sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O novo sempre vem

Contribuições para o blog do Coletivo Bequadro Mostarda sobre o que há de novo para perturbar nossos sentidos! Acessem, leiam, opinem, mudem!  ;)

 

Arestas cortantes de uma caixa vítrea  

FAIXA-A-FAIXA: Glassbox (The Children´s Object Book)

 O bumbo espaçado que se aproxima do fim soa como batidas à porta, amplifica o medo, a perseguição por algo indecifrável. George Orwell entenderia essa música. Seria o fim ou apenas o início do terror?”

 

Azul dopado

FAIXA-A-FAIXA: Jane Dope - EP (Às 4 na Augusta)

“O aumento da intensidade acaba por morrer na continuidade pós-punk repetitiva: ‘Sadness is my lover, Sadness is my lover’. Não há mudança. Não há esperança nenhuma”.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Conversa de enterro

Manhã de domingo, 14 de agosto de 2013

(dois amigos caminham pelo cemitério acompanhando o cortejo fúnebre)

-“.... o touro é valente, bate na gente, a gente é fraco cai no buraco, o buraco é fundo acabou-se o mundo...” Nunca tive uma impressão muito boa dessa cantiga.

-Sempre tive medo do fato de o buraco ser fundo, e não tem nada a ver com Freud ou coisa parecida...

- hahaha, que absurdo...

- Pois é. Na verdade sempre associei essa parte final a um medo primário, à finitude do ser humano e à fragilidade da vida. Medo do desconhecido...

- Tem a ver. Mas ainda assim quando éramos crianças havia uma sensação de que estávamos protegidos de alguma forma, talvez pelos pais, talvez por forças superiores, ou pelo simples fato de ainda mantermos um otimismo bobo comum à inocência infantil.

-Queria saber o momento exato em que alguém perde essa inocência. Óbvio, sei que é um processo, um desgaste furioso que faz uma pessoa se degradar com o passar dos anos... mas haveria uma situação específica na qual esvazia-se completamente?

-Ah, talvez. Uma coisa que sempre pensei é porque as coisas perdem a graça. Lembra de quando você era pequena e tomar um sorvete era a coisa mais incrível do mundo? Ou como as luzinhas do parque, à noite, eram tão coloridas que te deixavam numa euforia fora do comum?

-hahaha, é verdade. Hoje em dia, se tomo o sorvete é para matar o calor. E se passo em frente àquele parque sinto apenas nostalgia, nada mais de genuíno.

-Acho que quando perdemos essa vontade fundamental passamos a nos apoiar em muletas, sejam elas pessoas ou objetos. Percebemos que nunca mais iremos andar por vontade própria. “I couldn´t walk and I tried to run”. Desesperador.

(o padre inicia uma oração. Na sequência os primeiros grãos de terra caem em cima do caixão do finado amigo)

-Sempre que venho a um velório lembro da morte de um gato que tive quando era pequena. Ele era muito legal, derrubava coisas, como todo filhote. Mas como ficava sozinho em casa e era curioso demais, foi aí que se deu mal... entrou no quintal do vizinho e caiu na piscina, não sei como. Talvez tenha visto seu focinho refletido na água e desejou saber o quão real era aquela imagem.

-hahaha, um tanto filosófico para um gato...Bom, mas ao menos foi escolha dele, pior se alguém o tivesse jogado na piscina.

-Isso é, mas ele pode ter se confundido, achou que não havia tanto perigo em tentar alcançar o fundo da piscina; ou talvez estivesse tentando encontrar companhia nesse outro gato refletido na água. Não deixa de ser triste da mesma forma.

-Não, nunca deixará de ser. A realidade é apenas um conceito que varia conforme o animal. Espero que seu gato tenha encontrado algo bom além do vazio da própria imagem.

(jogam as flores sobre o túmulo e partem em silêncio)