“I look at my watch it say 9:25
and I think ‘Oh God I'm still alive’
We should be on by now
We should be on by now”
Time – David Bowie
O conceito de felicidade – e o uso que se faz do tempo para atingi-la - varia muito de pessoa para pessoa. Para um jogador, vencer é o mais importante, por mais medíocre que seja o jogo. Para um pianista, a execução perfeita daquele concerto que ele ensaiou anos a fio o leva a satisfação plena. Para alguns empresários, a cotação em alta na bolsa já garante a elevação da alma.
Tem-se discutido muito sobre a inclusão da felicidade de uma população entre os aspectos considerados no PIB (Produto Interno Bruto), indicador que representa a soma de todos os bens e serviços produzidos em determinada região. Mas levando-se em conta as suposições acima, isso se torna um tanto complexo.
(Pillars of society, George Grosz)
A ideia geral de felicidade que se tem hoje é basicamente a da santa classe média - do início ao fim de uma vida, tudo parece se resumir de maneira bem prática. Após a infância, espera-se que uma pessoa se forme no ensino médio, faça uma faculdade e arranje um bom emprego (se for advogado ou engenheiro será muito bem recebido nos restaurantes!). Tendo cumprido esses requisitos básicos, é chegada a hora de casar, ter filhos e cria-los até se formarem. E depois disso?
O ideal é ter juntado um dinheiro durante a vida toda (o que não é muito difícil, já que o tempo para gasta-lo foi preenchido por trabalho e brigas conjugais) para enfim poder “descansar” em um sitiozinho ou em uma casa de praia no litoral sul. Pronto, eis que se pode esperar a morte sossegado.
Assim se mede a vida e quando a pobre pessoa que seguiu esse ciclo vicioso percebe, já está velha não só de corpo, mas também de espírito - acha tarde demais para começar algo novo, tentar sair desse vício de querer ter uma vida perfeita de acordo com o preceitos de sabe-se lá quem.
(Suicide, George Grosz)
Nos acostumamos a contar as horas, os dias, semanas, meses, anos, como se realmente essa divisão valesse alguma coisa. Talvez seja difícil perceber que o tempo é apenas uma ilusão, que existe apenas o agora – o passado não serve de muita coisa e o futuro é uma esquizofrenia sem tamanho. O que não exclui ter planos, aí que se dá uma confusão imensa.
Pouco adianta malhar três vezes por semana, comer legumes, dormir exatamente oito horas por noite pensando em como se estará daqui 50 anos: amanhã você pode ser atropelado meu caro. Ou semana que vem pode descobrir alguma doença nova. Ano que vem pode não conseguir sair de uma cama. Mas também é uma estupidez romântica tacar o chamado “foda-se” para tudo.
Só existe esse momento para tentar plantar algo de bom e construtivo, algo que faça valer a existência pela plenitude de cada momento, sem a espera de nada em troca. Fazendo isso, se o futuro vier, será bem vindo - como diria Lou Reed: “você só vai colher o que plantar”. E se não vier, tudo bem, a vida foi eterna enquanto durou.
2 comentários:
A tal felicidade deve estar nos intervalos...
entre o gole exato do alcool que agente engoliu e a vontade de vomitálo...
entre o orgasmo dos corpos colados e o isqueiro acendendo um cigarro...
No fechar dos olhos na parte mais legal daquela música...
na certeza de que ela passa , asim como a vida...
Cris...pequena gênia!
olha, eu fico tão feliz quando alguém sente vontade de ressaltar o próprio ponto de vista depois de ler algo que escrevi...e geralmente são os comentários que mais acrescentam! Você conseguiu sintetizar de uma forma linda a ideia do texto, a vida realmente está nos intervalos...
brigada pelas palavras, de coração ;)
Postar um comentário