Certos planos nunca vão sair do papel e a vontade de torná-los reais esmorecerá, queimando junto com as folhas acobreadas das árvores após a geada.
Algumas palavras nunca serão ditas, logo as mais necessárias; vão parar no campo do pensamento e jamais fluir pelo ar em notas afinadas ou não, na melodia abrupta do coexistir.
Alguns detalhes nunca serão notados; se perderão no decorrer dos anos com a sua sutileza sendo tragada pela voracidade do tempo. A flor do vestido; o botão solto da camisa; a doçura daquele bolo de tangerina perdido em alguma manhã luminosa.
Algumas músicas nunca serão transcritas em partituras, gravadas em velhas fitas ou transpostas da mente para um instrumento. E alguns poemas só vão existir no campo das ideias, não haverá a coragem necessária para torná-los reais.
Algumas pessoas nunca vão se conhecer, enquanto outras jamais se encontrarão novamente, mesmo na busca desesperada pelo semblante familiar.
O trem errado, a esquina certa, os passos perdidos na estranha dança do desencontro.

Imagem: Árvores de Outono (1911), Egon Schiele.