Longa parece uma mistura mal feita de Vanilla Sky (jovens executivos), Trainspotting (drogas) e Old Boy (tortura!) – mas não é que vale a pena assistí-lo?
Do alto um prédio – ou melhor, de um bunker de luxo – vemos um homem prestes a se suicidar. O local está sendo invadido violentamente e não parece haver muita esperança para Eddie Morra. Esse primeiro clichê descarado (vá tomando nota, pois são vários), nos indica que alguma coisa deu errado no caminho de sucesso do jovem executivo... ou talvez o próprio caminho para o sucesso seja mais torto do que se imagina. Uma Nova Iorque que dá vertigem com tantas luzes e efeitos ambienta o recém lançado Sem Limites – e logo de saída vem a lembrança de Vanilla Sky: o sonho contemporâneo americano - ser uma pessoa bem sucedida nos negócios, que também ultrapassam as fronteiras com a globalização - é ameaçado de alguma forma.
Voltemos à vida de homem comum do protagonista antes de suas ascensão meteórica (segundo clichê descarado da película). Nos deparamos com um escritor que sofre um lapso de criatividade logo quando consegue assinar um contrato para lançar seu livro. Sua namorada o deixa por ele ser um perdedor vagabundo – ainda mais estando ela própria em ascensão profissional, precisando de alguém a sua altura. Desiludido e com cara de “bêbado e drogado” mesmo não o sendo ,- característica dos escritores, segundo o personagem – Morra tromba por acaso seu ex-cunhado metido com o tráfico, que lhe oferece uma droga nova em fase de testes chamada NZT.
Com a pílula, o escritor frustrado passa a ter acesso a todas as áreas do seu cérebro, conectando informações que o fazem resolver qualquer problema, ter ideias geniais, ser sociável, divertido e, acima de tudo, conveniente e centrado: olhando para gestos e detalhes das pessoas com quem conversa, sabe como agir para ganhar sua confiança; e não perde o foco de onde quer chegar. Sim, eis a sutil fórmula do sucesso. O protagonista escreve seu livro num ritmo frenético enquanto os efeitos da droga duram – até que precisa de mais suprimento e se torna um viciado na nova personalidade que adquire com a pilulazinha transparente (aqui temos nosso terceiro clichê).
Depois de muitos percalços como viciado, Morra consegue mais NZT e sua ascensão passa a ser meteórica. Da literatura vai à bolsa de valores - quer ser um vencedor, lembre-se - e em pouco tempo chama a atenção do presidente de uma corporação (Carl Van Loon, interpretado por Robert De Niro) que percebe seu talento para os negócios. Porém, seus limites vão indo cada vez mais longe e o personagem não consegue mais freá-los: a constante superação vira rotina e o jovem executivo passa a ser invejado e perseguido por causa de suas pílulas mágicas. Todos desejam ser vencedores como ele, e uma mãozinha pra chegar lá parece ser indispensável, seja ela sintética ou humana.
Finalmente, caro cinéfilo, na segunda parte do filme você se livra do arrependimento de ter ficado no cinema mesmo amaldiçoando todos os clichês americanos, cenas explicativas e frase de efeito. O bom-mocismo vai indo por água abaixo e, quanto mais podre e drogado Morra se torna, - aliás, como todo o meio que o cerca – mais alto vai. E vai feliz da vida na maior parte do tempo, pra fúria dos mais conservadores. Se mesmo com a vertigem provocada por viagens dentro de espelhos, ruas em movimento, quedas de edifícios e uma trilha sonora mais do que adequada pro deleite de uma ascensão eufórica, você continuou entediado, pelo menos o preço do ingresso vale pela surpresa dentro da estranha caixa que chega ao escritório enquanto Morra toma um sermão de Robert De Niro. Nada como um bom presentinho para nos lembrar que somos humanos!